Ela acordou cedo àquela manhã. Levantou vestiu a calça de moletom
larga, catou o skate no canto do guarda-roupas e vazou. Passou pelo
gato na sala pisou no seu rabo e nem sequer ouviu o miado estridente.
Porta trancada chave fora da fechadura. Caralho!
Sua palavra favorita. Jogou o skate no sofá, saiu chutando tudo e
levantando as coisas do lugar entre bufadas e ranger de dentes.
Lá estava ela entre a vasilha de brigadeiro mole
e a revista rolling stones do mês. Nem percebeu
quando passou pela porta e esqueceu de trancar. O caminho
todo chutando pedras, pisou na merda
do cachorro, olhou pro céu e amaldiçoou o sol.
A pista de skate lotada de "mano"
e ela não conseguiu disfarçar o desdém. Manobra
arriscada, vento gelado na cara,
dois ematomas a mais pra coleção. Aquela mordida
no braço esquerdo ainda doía.
Uma olhadela para o lado e a sensação de ansia de
vômito misturada com formigamento
nas têmporas, era ele! O filho da puta cretino
amaldiçoado caminhando faceiro com sua
boneca barbie do lado. Cerrou os dentes subiu a
rampa. Camarada marrento, camiseta de
marca, cordão de prata no pescoço, olhou pra
ela e apertou a cintura de pilão. Sorriso
na cara, olhar de malandro. Cinco segundos
depois um trabalho mental: nunca te amei,
nunca passei noites em claro chorando feito
uma idiota por você, nunca escrevi porra
nenhuma pra você, nunca ouvi pagode por
tua causa, nunca te amei, e vc é péssimo na cama!!
As rodinhas de gel deslizando, uma pedrinha
estratégicamente posicionada. A cabeça aberta
e o coração ainda batia, mais um segundo e veio a paz.
Amanda Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário